PARA EVOLUIR, ÀS VEZES É PRECISO DESACELERAR

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Márcio Souza

Vivenciando a corrida de rua, há cerca de quatro anos, tenho meu portfólio próprio de lesões e interrupções. A vivência mostra que  não é “privilégio” deste signatário.

No afã de  melhores resultados, o corredor está suscetível a uma ampla gama de lesões, que por fim pode frustrar as expectativas.

Segue um texto, bem produzido, do atleta amador e fisioterapeuta,  Marcel Sera, publicado originariamente no ativo.com, retratando com maestria o tema.

“O processo para evoluir na corrida é basicamente o seguinte: quando começamos a correr, o objetivo é controlar o fôlego e aguentar o máximo de tempo possível no ritmo. Em seguida, começamos a calcular a distância e estabelecer como meta um número que represente os quilômetros a serem percorridos. Finalmente traçamos distâncias em um determinado tempo, que vai diminuindo conforme avançamos. Isso tudo parece tão natural, certo? Mas muitas pessoas ainda sofrem e acabam se machucando ou se frustrando, pois não possuem a orientação adequada. Por este motivo, vamos discutir sobre melhores forma de evoluir na corrida.

Sempre valorizamos pessoas movidas a desafios, que se comprometem em crescer a cada dia, alcançando resultados constantemente melhores, mas nos esquecemos de que o gráfico de evoluir na corrida não necessariamente precisa ser uma linha que só sobe. Ela geralmente pode ter uma média que só cresce, mas deve ter altos e baixos.

Descer um degrau: fundamental para evoluir na corrida

Um atleta que passa semanas, meses, anos em evolução constante, sempre participando de provas mais rápidas e treinos mais intensos, precisa de vez em quando desacelerar, reduzir o estímulo, para depois retomar e dar segurança para aumentar cada vez mais a intensidade. Do contrário, as chances de lesões são imensas. O problema é que é muito difícil ter a consciência de que às vezes é importante descer um degrau antes de subir dois, ou três.

O exemplo típico é o corredor de meia-maratona que em um ano consegue fazer várias provas, uma mais rápida que a outra, batendo seus recordes pessoais. Aí no ano seguinte coloca metas mais ousadas, mas logo na primeira prova se machuca. Assim como o maratonista que a cada ano quer baixar o tempo até conseguir o tão sonhado sub-3, mas depois de anos baixando o pace, se lesiona antes de tentar esse sonho.

Aprenda a ouvir seu corpo

O corpo não é feito apenas de músculos. Por isso não use apenas eles como parâmetro para saber se você está cansado ou não. O desgaste de órgãos e todas as estruturas que funcionam para manter os músculos saudáveis também contam. A gente não costuma sentir no começo, apenas quando o desgaste se torna crônico e, neste caso, você é obrigado a parar, mesmo sentindo que os músculos conseguem te fazer correr.

Não que isso seja uma regra, pois obviamente tem gente que não vai ter nada, seja por genética, seja por cuidados paralelos ou outros aspectos (jamais por sorte), mas o corpo que passa muito tempo seguido sendo estimulado de forma progressiva e cada vez mais forte, sem intervalos de descanso, uma hora grita.

Quando digo “descanso” não significa ficar parado repousando o dia todo, sem correr. Apenas quer dizer reduzir o ritmo, intensidade ou volume. Por exemplo, após meses de treino intenso para fazer uma prova de 10 km abaixo de 40 minutos, após a corrida você pode passar várias semanas fazendo trotes mais leves ou praticando outras modalidades complementares, como caminhadas ou bike.

Ou, então, após uma maratona abaixo de 3h, você pode passar meses sem fazer treinos longos, antes de começar um novo ciclo de treinos para reduzir ainda mais este tempo posteriormente. O tempo de descanso varia de acordo com o nível de cada um.

O importante é não ter pressa, principalmente se você não é profissional. E neste caso, a corrida não exige que você seja muito novo para alcançar resultados excelentes. Portanto, a ansiedade não combina com a corrida de rua (talvez combine nas corridas de pistas, em provas de velocidade).

Corra a cada dia melhor e por mais tempo.

Márcio Souza, corredor amador e vice-presidente da ACOFRANCA